quarta-feira, 10 de junho de 2009

Os postes daquela rua pareciam falhar de propósito. Mas ele conhecia aquele caminho muito bem, de muros pichados, prédios abandonados, ele sabia decorado o numero de degraus que o levariam até (...) ultima vez que pisaria ali, foi o que ele disse, e voltara milésimas vezes depois da ultima vez. Ele sabia muito bem o que encontraria, quando abrisse aquela porta amarelada do décimo segundo andar. Veria um par de olhos castanhos claros, esbugalhados, fixos em algum ponto da parede que nos seus tempos de gloria fora vermelho sangue, e que agora possuía infiltrações de vértice a vértice daquele cubículo, que um dia fora habitado pelo o que comumente chamamos de casal feliz.
Seria a ultima vez que tocaria naquele par de mãos frias, que mais pareciam ser luvas, longas luvas esbranquiçadas... Os lábios possuíam um tom arroxeado, o contorno dos olhos... Tão fundos, os olhos castanhos sem brilho algum, pareciam tão distantes. Desconfiaria que estivesse tocando em um defunto, juraria que ela estava vegetando se aquele par de olhos esbugalhados não tivesse se movido e o encarassem, observando cada movimento, e se os lábios outrora mortos e imóveis, estivessem se movimentando, pronunciando em uma voz rouca, praticamente inexistente:
- E agora? Hoje você me perdoa?
Preferia não fita-la. Jurou que seria a última vez
- Quem sabe amanhã? Quem sabe.