quinta-feira, 27 de novembro de 2008




- Ela parece distante... talvez seja porque está pensando em alguém.

- Em alguém do quadro?

- Não, um garoto com quem cruzou em algum lugar, e sentiu que eram parecidos.

- Em outros termos, prefere imaginar uma relação com alguém ausente que criar laços com os que estão presentes.

- Ao contrário, talvez tente arrumar a bagunça da vida dos outros.

- E ela? E a bagunça na vida dela? Quem vai pôr ordem?





( Le Fabuleux Destin d’Amélie Poulain )

domingo, 23 de novembro de 2008

Pode ser que,

Não se assuste com o meu silêncio, e não tenha medo deles, eu estou aqui com você. Pode ser que às vezes eu pareça um pouco sombrio, pensativo. Pode ser que no lugar de beijos e bombons, eu te traga flores murchas. Pode ser que às vezes eu demonstre aquilo que você sempre quis de um cara. E as vezes posso não ser o certo, e nem conseguir chegar aos pés de um. Então, ao menos fique comigo enquanto eu não parecer ridículo. Aproveite as velas, o jantar, antes que ele pareça indigesto, antes que minha companhia não te faça bem. E antes que a noite acabe, e que a fumaça do meu cigarro te deixe tonta, prometo tentar fazer promessas falsas de um amor que nós dois sabemos que não vai durar tanto assim. Então cuidado, pois muitas vezes fiz malabarismos com os sentimentos dos outros, e talvez você tenha que prestar atenção nos meus movimentos para não se deixar enganar.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

pequeno trecho de uma história

(...) Sim, ela tinha esse pequeno defeito de sentir as coisas intensamente demais, ela tinha esse pequeno defeito de acreditar demais em mim. E agora mesmo que eu diga que era tudo uma grande mentira, ela apenas ri e me ignora. Hoje eu percebo que sem querer, achando que era mais esperto, me deixei perder dentro dessa bolha que ela criou em nossa volta, hoje percebo que estou perdido demais, pra achar o caminho de volta sem ela.

sábado, 1 de novembro de 2008

Fuga

Você pode continuar a me ignorar. Você pode rir de mim, virar a cara e continuar a ver televisão. Sim, você pode continuar a ignorar a cama dividida ao meio, a louça separada, as noites que eu passo no sofá da sala, as madrugadas que eu chego tarde, as marcas de batom na minha camisa amassada, o perfume barato, a aliança esquecida no cinzeiro, as mensagens no celular, os telefonemas que só tocam de madrugada, pode continuar a ignorar os diferentes nomes que eu sussurro enquanto durmo. Pode ignorar meu sarcasmo, minha hostilidade com você. Sim você pode ignorar o fato de não ter mais beijo de despedida, nem desculpas para os atrasos nos almoços de família, as explicações para as marcas na camisa. Mas não pode ignorar as marcas no meu pulso, os comprimidos espalhados pelo banheiro. Se você pretende continuar a ignorar todas as minhas indiretas e pistas, eu pretendo sozinho sair desta casa, nem que seja pulando pela janela desse nosso apartamento cinza e sem graça, que um dia chegamos a chamar de paraíso.