sábado, 1 de novembro de 2008

Fuga

Você pode continuar a me ignorar. Você pode rir de mim, virar a cara e continuar a ver televisão. Sim, você pode continuar a ignorar a cama dividida ao meio, a louça separada, as noites que eu passo no sofá da sala, as madrugadas que eu chego tarde, as marcas de batom na minha camisa amassada, o perfume barato, a aliança esquecida no cinzeiro, as mensagens no celular, os telefonemas que só tocam de madrugada, pode continuar a ignorar os diferentes nomes que eu sussurro enquanto durmo. Pode ignorar meu sarcasmo, minha hostilidade com você. Sim você pode ignorar o fato de não ter mais beijo de despedida, nem desculpas para os atrasos nos almoços de família, as explicações para as marcas na camisa. Mas não pode ignorar as marcas no meu pulso, os comprimidos espalhados pelo banheiro. Se você pretende continuar a ignorar todas as minhas indiretas e pistas, eu pretendo sozinho sair desta casa, nem que seja pulando pela janela desse nosso apartamento cinza e sem graça, que um dia chegamos a chamar de paraíso.

1 comentários:

Anônimo disse...

Eu posso emprestar meu fusca pra tal da fuga!